Cresce a prática do detectorismo em Maragogi no Litoral Norte de Alagoas

Cidade turística e histórica, Maragogi, no Litoral Norte do Estado, tem atraído, cada vez mais, praticantes do detectorismo. Classificada como hobby por uns e “meio de vida” por outros, a modalidade ganha adeptos no Brasil, inclusive em Alagoas.

GazetaWebMaragogi conversou com dois deles, que pediram para não ser identificados. Os praticantes são logo notados pelos equipamentos que carregam. Um deles circulava pelas ruas de Maragogi com um detector de metais, avaliado, segundo informou, em R$ 6 mil.

O cidadão era estrangeiro e apesar de não querer gravar entrevista, foi cordial. Alegou que não gosta de aparecer e se justificou citando o caso de um pernambucano que concedeu entrevista contando a rotina de um detectorista e que, por isso, estaria em maus lençóis.

É que na referida matéria, ele teria mostrado uma aliança com data e nome da proprietária. Esta assistiu à reportagem. E como tudo o que se perde tem um dono…

Mas, enfim, o que estaria atraindo detectoristas a Maragogi? Do ponto de vista turístico, o município conquista visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo, que se deleitam com as belezas naturais estendidas por 22 km de costa litorânea. É muita areia para ser revolvida em busca de alianças, moedas, relógios e outros objetos de valor. E essas coisas se perdem com facilidade.

As piscinas naturais (Galés, Taocas e Barra Grande), formações recifais a cerca de 6 km da costa, principais atrativos turísticos de Maragogi, recebem, por ano, cerca de 250 mil visitantes, segundo estimativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Mergulhadores frequentemente encontram joias perdidas pelos banhistas nesses locais, inseridos dentro da Unidade de Conservação. Trata-se, então, de um campo submerso amplo que passou a ser explorado por moradores locais, donos de modernos detectores de metal, à prova d’água.

Do ponto de vista histórico, a Maragogi do passado se revelou na contemporaneidade quando da aparição de duas botijas em 2004, durante as obras para instalação da rede de esgotamento sanitário. O achado da época do Brasil Reino Unido (1800) atraiu a curiosidade de turistas e nativos. Mas também trouxe muitos “caçadores de tesouros” ao município.

Depois de muita confusão, buscas e apreensões determinadas pela Justiça, os patacões com alusão a d. João VI, que restaram das duas botijas, passaram a dormitar no cofre da prefeitura, longe do olhar de todos. A proposta do então prefeito Marcos Madeira era criar uma espaço para expor as relíquias aos turistas e à população em geral, o que nunca aconteceu.

Botijas também já foram encontradas em Japaratinga e Porto Calvo, palco de intensas refregas entre os exércitos luso-espanhol e holandês, a partir do século 17. Por isso, balas de canhão, espadas e resquícios de outros armamentos surgem do solo viçosa da “Terra de Calabar”.

“Maragogi era uma região onde existiam muitos comerciantes. Como não havia banco e o centro regional era Porto Calvo, essas pessoas tinham o hábito de esconder suas economias enterradas”, explicou o antropólogo e historiador Dirceu Lindoso, em entrevista à Gazeta de Alagoas, depois que as botijas foram encontradas no município.

Em 2010, mais um achado deixou Maragogi em polvorosa. Uma mina aquática de flutuação foi encontrada sob o calçamento da Avenida Senador Rui Palmeira, novamente durante uma obra, desta feita de revitalização da orla marítima. O artefato da 2ª Guerra Mundial foi retirado e explodido pela Polícia Militar de Alagoas.

“Eu vi quando os americanos resgataram aquela mina presa nos arrecifes e a trouxeram para a terra. Tiraram as espoletas e a enterraram no Beco da Estefânia. Era provavelmente um artefato americano usado contra os submarinos alemães durante a Segunda Guerra Mundial”, contou Lindoso, à época.

Renda extra

Há cerca de quatro meses, um autônomo, morador de Maragogi, encontrou no detectorismo uma forma de amealhar renda extra. Quando não está envolvido em sua principal atividade, o homem ganha a estrada, sítios, praias de Maragogi, em busca de moedas antigas, principalmente. E já encontrou muita coisa.

Do bolso fundo da bermuda puída, sacou várias sacolas plásticas e exibiu moedas dos séculos 18 e 19, muito semelhantes às encontradas nas botijas de 2004. Algumas estão furadas bem no centro. É que os antigos que não possuíam carteiras passavam um barbante pelo orifício e faziam um colar, preso ao pescoço, explicou.

Para começar a “brincadeira” – levada a sério por ele – o autônomo desembolsou R$ 2 mil e comprou um detector de metais, seu fiel companheiro. Outros mais modernos podem chegar a R$ 18 mil, revela.

“Eu vi o povo procurando e vendendo moedas antigas, aí comecei também. Só que o povo não gosta de dizer para não arrumar encrenca. Dizem que a Polícia Federal está investigando e pode tomar as moedas e processar as pessoas. Isso aconteceu depois que a dona de uma pousada denunciou os pedreiros que acharam uma botija durante a obra, no começo deste ano, aqui em Maragogi. De minha parte, não vejo nada demais. Não estou roubando nada de ninguém, porque achado não é roubado”, disse, exibindo terra sob as unhas dos pés e das mãos, resultado das buscas diárias.

Segundo ele, as moedas são encontradas entre 10 e 60 centímetros de profundidade. “Ontem, eu achei quatro. Tem dia que acho duas e tem dia que volto com a mão abanando. Procuro em sítios antigos, como Ponta de Mangue, Antunes, Barra Grande. Mas, peço sempre autorização ao dono. Tem gente que acha aliança, anel, cordões de ouro. Quem procura, acha, não é verdade?”

Só ele diz conhecer, ao menos, dez pessoas em Maragogi que se tornaram detectoristas. O grupo possui catálogos usados por numismatas, profissionais que estudam, sob o ponto de vista histórico, artístico e econômico, as cédulas, moedas e medalhas antigas.

“O valor da moeda vai depender da data e do estado de conservação. As mais velhas são mais caras, geralmente. Eu já vendi uma unidade até por R$ 200. Mas tem gente que paga mais caro. Eu vendo a colecionadores de Recife e Maceió”.

Legislação

No Brasil, não existem regras específicas sobre o detectorismo. Em sites, os praticantes estabelecem uma espécie de código de ética, com dicas de boa conduta e posturas a serem adotadas, como sempre respeitar a propriedade privada, não afetar sítios arqueológicos e o meio ambiente.

GazetaWebMaragogi enviou, por e-mail, à Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Alagoas, um questionário sobre dúvidas relacionadas à atividade do detectorismo e à legislação, mas não obteve resposta.

Sabe-se, entretanto, que todo bem de valor arqueológico pertence à União, conforme a chamada “Lei de Arqueologia” (nº 3.924, de 26 de julho de 1961), que torna ilegal a posse ou comercialização de bens arqueológicos por particulares.

Sobre a prática do detectorismo dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, onde estão inseridas as praias e as piscinas naturais de Maragogi, o chefe da Unidade de Conservação federal, Iran Normande, disse que, por ser uma atividade nova na região, o plano de manejo, publicado em 2013, não a contempla.

“Não existe regramento no plano de manejo. Vamos analisar com cuidado antes de dizer o que pode e o que não pode”, explicou Normande.

 

Fonte: gazetaweb.com

 

COMENTÁRIOS